Capítulo 58 - Era Sábado
Era sábado de manhã e, no Brasil, Isabela almoçava. A empregada veio com uma caixa do correio nas mãos e avisou:
- Dona Isabela, encomenda para a senhora.
Erguendo-se em um salto, ela pegou a caixa.
- Deixe-me ver. É de Peter!
Curiosa, chacoalhou o embrulho suavemente e indagou para si mesma:
- O que será isso?
Terminou de almoçar rapidamente e foi até a sala de estar com o pacote nas mãos. Sentou-se, degustou uma xícara de café fresco e tirou o invólucro da embalagem. Havia um bilhete:
"Querida, não abra até estarmos frente a frente no computador, hoje à noite. Por favor, é uma surpresa. Amo você, Peter".
Embora a curiosidade a fustigasse, Isabela aguardou até a noite. Nunca um entardecer lhe parecera tão demorado. Mais tarde, mal pôde engolir o jantar e correu até o seu notebook, para conectar-se ao namorado. Assim que conseguiu, lá estava ele. A jovem foi logo dizendo:
- Recebi sua encomenda. O que está aprontado?
Quase me matou de curiosidade. Isso não se faz.
Nunca se pede a uma mulher para não abrir um presente que acaba de receber...
- Vai valer o esforço. Pensei em muitas maneiras, e essa foi a melhor que encontrei...
- Posso abrir agora?
- Pode. Abra de um jeito que eu possa ver daqui.
Isabela sentou-se bem diante da câmera digital e abriu a embalagem. Dentro dela havia uma pequena caixa azul com um lindo laço. O coração da moça começou a bater descompassado, pois ela conhecia a tradição de se pedir alguém em casamento oferecendo um anel de brilhantes.
- O que é isso?
- Não consegui pensar em outra forma de pedir.
Ela abriu a pequena caixa e lá estava o anel de brilhantes mais lindo que já vira. Um bilhetinho acompanhava o pacote: "Encontrei a mulher da minha vida. Aceita casar comigo?"
Ela tirou o anel da caixa e exclamou:
- Você me surpreendeu demais! Não podia imaginar...
- E qual é sua resposta?
Ela pensou por alguns instantes, hesitou um pouco, e finalmente, cedendo à emoção que a invadia, colocou o anel no dedo lentamente e mostrou-o ao noivo:
- Aceito!
Peter abriu um imenso sorriso e Isabela indagou:
- O que tem em mente?
- Vou para o Brasil levando minha família e nos casamos aí, do jeito que você quiser. Você dirá como quer cada detalhe, e nós o faremos.
Pensando no alto custo de uma festa de casamento, Isabela silenciou. Peter, adivinhando-lhe os pensamentos, disse:
- Acabei de receber uma promoção. Passo a ter uma coluna mensal no jornal e fui convidado a assinar outra em uma revista. E quando conseguir editar meu livro, sei que poderei construir uma reserva financeira adequada a uma nova família.
- Li o livro. Você escreve muito bem.
- Tudo isso me aconteceu depois de ter encontrado você, Isabela, e não quero perdê-la. Não quero perder mais nada em minha vida.
- E como imagina nossa vida depois do casamento?
- Minha sugestão é que você venha para cá, para morarmos em Nova York. Pode começar sua carreira médica aqui. Falta pouco para terminar a residência, não é?
- Sim, mas essa é uma decisão muito séria. Não tinha pensado em viver fora do Brasil, pelo menos agora.
- Você nunca morou fora de seu país. Será uma experiência interessante.
- Preciso de alguns dias para pensar como seriam essas mudanças, enfim, para refletir sobre tudo o que envolveria essa vida nova.
- É claro, não quero pressionar. O melhor é pensar agora para tomar a decisão mais correta.
Sentindo-se aliviada com a atitude de Peter, e muito feliz pela surpresa que ele lhe fizera, ela assegurou:
- Tenha a certeza de que vou pensar com muito carinho, e muita vontade de estar ao seu lado.
Conversaram até altas horas, e Isabela adormeceu com o anel no dedo. Na manhã seguinte contou aos pais o inusitado pedido de casamento de Peter. A mãe olhou o anel e comentou:
- Nossa! Agora o rapaz me surpreendeu. Não é que ele sabe fazer as coisas? Por essa eu não esperava...
- Nem eu, mãe.
- Ele deve estar ganhando bem, então.
- Foi promovido.
- Mas faz menos de um ano que arrumou o trabalho.
- Ele é ótimo jornalista. Estava perdido, precisando reencontrar o rumo de sua vida.
Márcio sorriu da felicidade da filha e brincou:
- E parece que o rumo dele é você, não é mesmo?
- Você está muito feliz, não é? - comentou Ana Lídia.
- Estou mãe...
Depois, fitando o pai, segurou suas mãos e emendou:
- Embora minha felicidade não seja completa. Seria se você já estivesse curado.
Márcio sorriu ligeiramente.
- Você deve seguir com sua vida, procurar a felicidade e a realização, independentemente de mim...
- Obrigada, pai, mas eu só vou ficar completamente feliz quando você estiver melhorando...
A conversa continuou até o fim daquela manhã de domingo. Nos dias que se seguiram, Isabela pensava sem parar em seu futuro, na decisão que deveria tomar. Muitas vezes sua cabeça rodopiava e ela até sentia vertigens. Desejava, de coração, tomar a melhor decisão e fazer as escolhas mais adequadas para sua vida. Sabia de sua responsabilidade no tocante à mediunidade e já havia compartilhado suas descobertas com Peter, que também passara a estudar a Doutrina Espírita. Ela orava e pedia que Jesus a orientasse sobre o que fazer, porém a decisão lhe parecia muito difícil. Sentia-se confusa e perdida, e não encontrava na mãe a amiga que lhe compreendesse as angústias. Resolveu então falar com sua melhor amiga.
- Preciso conversar com você, Helena. Tenho de tomar algumas decisões e preciso de seu apoio, de sua lucidez.
Com seu sorriso afetuoso, Helena respondeu:
- Você sempre poderá contar comigo. Estamos aqui para nos ajudar uns aos outros. É árdua a tarefa de elevação espiritual que todos devemos abraçar na existência, mais cedo ou mais tarde. Precisamos nos apoiar mutuamente, para que consigamos caminhar... Mas diga, qual é o motivo da sua ansiedade?
- Daqui a duas semanas termino minha residência; estou fazendo os exames finais.
- Isso é muito bom.
- Meu pai, não obstante todos os esforços que temos feito, precisa fazer uma cirurgia delicada e prosseguir com o tratamento, pois seu estado de saúde é gravíssimo. Por outro lado, meu romance com Peter está cada vez mais sério.
- Vocês se encontraram novamente?
- Não, mas nos comunicamos diariamente, desde sua última estada aqui. Conversamos até mais de uma vez ao dia, e falamos por horas pelo computa-dor.
- Vejo que a tecnologia está dando um empurrãozinho nesse namoro...
- É muito mais do que namoro. Mostrando o anel à amiga, Isabela disse:
- Na verdade, ele me pediu em casamento. Foi completamente inesperado. E agora, Helena, estou confusa, sem saber o que fazer. Será esse o melhor caminho para minha vida? Deixar o Brasil e ir viver em Nova York?
Helena fitou a jovem nos olhos com extremada ternura, depois ergueu-se e andou pela sala.
Enquanto isso, orava: que Jesus a ajudasse a ser útil à amiga, aconselhando-a conforme a vontade divina. Depois, voltou a sentar-se.
- Você vem desenvolvendo um trabalho importante em nossa casa, e é óbvio que contamos com você.
No entanto, temos de pensar na sua vida de modo mais amplo. Você foi chamada a servir a Jesus através da mediunidade, e esse é um elemento fundamental em sua existência terrena. Além disso, tem seus desafios pessoais, suas provas a vencer, no caminho da evolução; com relação a esses aspectos, no meu entender, o mais importante é manter-se firme em seu propósito de renovação espiritual a que os postulados espíritas nos convidam. Se o fará aqui ou em outro país, cabe a você conversar com Thomas e verificar qual a visão dele a respeito. O que ele lhe disse?
- Não lhe perguntei ainda.
- E por que não?
- Não sei, é como se ele não fosse aprovar...
- Então, quer pedir a opinião, mas tem medo de ouvir algo diferente de sua vontade? Isso mostra que no fundo já tomou sua decisão.
Isabela assentiu com um movimento da cabeça e disse:
- Acho que, como sempre, você está certa. No fundo, já tomei minha decisão; só tenho receio de ela ser errada, de eu estar abandonado minhas responsabilidades espirituais em favor do desejo de constituir meu lar, minha própria família.
- Nossa verdadeira família, Isabela, é toda a humanidade, e onde quer que estejamos podemos servir a Jesus, através dos nossos irmãos em humanidade. A paixão que nos atrai ao sexo oposto está a serviço do Universo, à medida que cumpre o papel de nos aproximar daqueles com quem, na maioria das vezes, já estávamos comprometidos.
Agora, permita-me dar-lhe um conselho: não tenha medo de seu mentor espiritual, e nunca deixe de escutá-lo. Ele está ao seu lado para ajudá-la. Quer o melhor para você e, a despeito das limitações da posição em que se situa, como espírito, enxerga mais claro do que nós. Ouvir-lhe os conselhos e orientações apenas a auxiliará.
Emocionada, Isabela abraçou a amiga que tanto amava:
- Acho que, mais do que tudo, sinto deixar você, que é para mim como uma segunda mãe...
- E você é como a filha que não tive.
-Ah, Helena, sinto-me tão dividida...
- Peça ajuda a Thomas; ele a orientará, estou certa.
- Podemos fazer isso agora mesmo? Você me ajuda?
Após pensar por instantes, a amiga propôs:
- Posso ficar em oração, enquanto você busca sintonia com ele. Helena baixou a cabeça e permaneceu em prece. Isabela orou a
Jesus para que iluminasse sua decisão e, a seguir, pediu a Thomas que se possível a ajudasse.
Mantiveram-se em silêncio, mas ele não se manifestou. Decepcionada, Isabela ergueu os olhos rasos de lágrimas.
- Acho que ele está bravo comigo. Por que não aparece?
- Ele tem estado ausente?
- Ultimamente, mais do que antes.
- Deve estar envolvido em tarefas que não podem prescindir de sua presença. Tenha paciência. Peça e espere. Nem sempre eles podem nos atender no momento exato em que pedimos.
- Está bem, vou aguardar - falou, já alegre e confiante. Perdida em reflexões, Isabela fez longa pausa; depois, voltando a prestar atenção em Helena, indagou:
- Como está a creche?
- Prestes a ser inaugurada.
- Quando?
- Em duas semanas. Você poderá fazer a avaliação das crianças?
- Claro. Estou apta para isso.
As duas escutaram a movimentação e as conversas abafadas indicando que as atividades da noite estavam para começar.
Mais tarde, ao se deitar, Isabela refletiu bastante sobre a conversa que tivera com Helena e, por fim, orou a Deus pedindo que Thomas a ajudasse a fazer a melhor escolha. Logo que a jovem entrou em sono profundo, Thomas auxiliou seu corpo sutil a desprender-se do veículo denso. Isabela fitou-o um pouco atordoada e saudou, quase num lamento:
- Querido amigo, há quanto tempo não o vejo...
Abraçando-a com carinho, ele disse, emocionado:
- Estou aqui, pronto para auxiliá-la no que me for possível.
- Esteve ausente...
- Não totalmente, querida. Tenho estado diariamente com você; no entanto, a situação de Eliana vem requerendo nossa presença. Essa dedicada trabalhadora de Jesus encontra-se na linha de ataque de muitos espíritos das trevas, que não querem o avanço do bem sobre a Terra. Visto que é uma trabalhadora do bem, da luz, ela se tornou alvo constante das forças do mal. Em nosso plano, tivemos de mobilizar grande contingente de trabalhadores para assisti-la.
Fazendo breve pausa, Thomas afagou com extrema ternura os cabelos de Isabela; depois continuou:
- Sei que deseja minha opinião nas decisões que precisa tomar.
- Estou muito angustiada. O que devo fazer?
- O que diz seu coração?
Isabela fitou os olhos do amigo e protetor e, como se olhasse para dentro de si mesma, falou: - Desejo casar-me com Peter e viver com ele, seja no Brasil ou nos Estados Unidos.
- E seus pais?
- Meu pai precisa de tratamento e poderá fazê-lo com melhores chances por lá.
- Quer levá-los?
- Eles querem ir também.
- Então, qual é o problema? Que dúvida ainda lhe resta?
- Essa é a coisa certa a fazer? E o meu trabalho na casa espírita?
- Minha querida menina, já percebeu sua notável fluência no idioma inglês?
- Sim, desde que tomei contato com o idioma, tenho a maior facilidade... Meus pais também...
- Pois, de fato, sua tarefa está lá e não aqui.
Revelando espanto, Isabela olhou interessada para Thomas, que prosseguiu:
- Sua última romagem terrena foi nos Estados Unidos, por isso a língua e a cultura lhe são tão familiares. Com o objetivo de se aprimorar e, acima de tudo, para bem desempenhar a tarefa de auxílio aos irmãos americanos, esse grupo reencarnou no Brasil, onde teve contato com a Doutrina Espírita, a fim de compreender melhor os ensinos do Mestre Jesus. Fique tranqüila, Isabela. Você pode aceitar com alegria o que seu coração lhe diz. Pode viver com Peter nos Estados Unidos, porque aquela pátria necessita demais do conhecimento real de Jesus e de seus ensinos fraternos. Os Norte- Americanos, de modo geral, afastaram-se dos princípios cristãos, deixando que o orgulho e o egoísmo os dominassem. O apego às riquezas e aos interesses materiais foi tomando conta da cultura americana e se fez senhor absoluto da nação.
Atualmente, eles espalham materialismo, egoísmo e individualismo pelo mundo, acarretando res-ponsabilidades e débitos cujo ressarcimento lhes será muito penoso. Precisam entender o sentido do amor e da fraternidade, bem como aceitar a realidade do espírito e sua supremacia sobre a matéria.
- Como foi que essa nação, nascida sob a égide dos protestantes fugidos da Europa - que basearam a própria colonização do país em seu amor ao Evangelho -, distanciou-se tanto de seus verdadeiros princípios?
- Esse é o grande perigo do culto exterior. Se não cultuamos a Deus com o coração e a razão, se aceitamos viver de aparências, se nos contentamos em repetir hábitos que nos são impingidos pelos superiores religiosos, sem viver a genuína ligação com o Pai e com Jesus, aos poucos nos distanciamos da verdade. Quando nos damos conta, já criamos novos paradigmas, muito diferentes daqueles que Jesus nos transmitiu, mas que nos satisfazem o orgulho e a vaidade, servindo muito bem aos interesses imediatistas que tanto nos preenchem os sentidos quanto deixam um buraco em nossa alma,
-É triste...
- Sim, e os espíritos superiores estão preocupados com esse povo que, tão rico de recursos, progressivamente se distancia da verdade.
- Muitos estudiosos admitem a existência dos espíritos. Tenho lido interessantes trabalhos de pesquisa, inclusive realizados com médiuns...
- Sem dúvida, eles utilizam médiuns em diversas atividades -por exemplo, para subsidiar ações de órgãos do governo. Cientistas efetuam muitas pesquisas e descobertas, mas aqueles que estão no poder mantêm essas questões ocultas da população comum. Sabem que o contato com a verdade liberta as consciências e não desejam que o povo seja livre e enxergue com clareza o quanto é dominado pelos interesses econômicos que governam a nação ameri-cana e, por conseguinte, exercem notável influência sobre o mundo todo.
Isabela baixou os olhos cheios de lágrimas. Thomas ergueu seu rosto suavemente e disse:
- Eles precisam de almas corajosas que, mais do que falar dos ensinos de Jesus, estejam dispostas a vivê-los na prática. Precisam, do amor, da fraternidade e da realidade que os conhecimentos espíritas nos descortinam. Você pode ajudá-los, se conservar o firme propósito de pôr sua mediunidade a serviço do próximo, com Jesus.
O companheiro espiritual abraçou a jovem com extrema ternura, ao recomendar:
- Vá, querida, assuma as tarefas que se propôs antes de voltar à Terra. E não tenha medo, estarei sempre ao seu lado.
Isabela fixou os olhos nos de Thomas e disse:
- Eu sei quem você é... Quero dizer, sei que vivemos juntos experiências anteriores. Às vezes, quando temos essas conversas durante o sono, ao despertar me vêm à mente muitas imagens nas quais vejo você. Surge de maneiras diversas, com várias aparências; contudo, são os seus olhos que encontro nesses homens diferentes de outras épocas. Já estivemos juntos, não é?
- Somos um grupo de espíritos ligados por laços afetivos e por débitos do passado.
Ele silenciou e Isabela agradeceu:
- Muito obrigada pelo seu carinho, por me ouvir e cuidar de mim em todos os momentos.
Thomas a abraçou outra vez, em eloqüente expressão afeto.
- Tenho só um pedido a fazer - disse.
- Farei qualquer coisa que me pedir.
- Eliana e Helena vão precisar de muito apoio, ao iniciarem as atividades da creche. Você poderia ficar ao menos mais alguns meses no Brasil?
Sem necessidade de pensar, Isabela respondeu:
- E claro. Quanto tempo acha que seria adequado?
- O ideal seria ao menos quatro meses.
- Vou utilizar esse tempo para fazer com calma todos os preparativos da minha mudança. A única preocupação é meu pai.
Thomas escolheu bem as palavras com que procurou esclarecer:
- O caso de seu pai é bastante delicado. Como disse, somos um grupo de espíritos que vêm trabalhando, encarnação após encarnação, no sentido de se libertar de débitos e defeitos, para ascender espiritualmente, rumo à perfeição. Nossas almas anseiam pelo progresso e pelo amadurecimento, pela elevação e pela pureza, porém ainda estamos presos a dívidas contraídas perante a lei Divina. Esse é, também, o caso de Márcio. Ele enfrenta grande luta para perdoar...
- É a mim que ele não consegue perdoar, não é? Eu sei... Sinto que tenho um débito com ele, mesmo sem ter feito nada que o agredisse na presente en-carnação. Sempre me senti assim com referência ao meu pai...
- Ele não consegue perdoar a você nem a... Peter.
- Peter?
- Sim. Acho que a dificuldade maior ainda é com Peter; a você ele já não odeia, ao passo que em relação a Peter persiste muito ressentimento. Essa é uma das razões da doença que lhe corrói o corpo físico. Ele traz mágoas profundas, arraigadas em seu perispírito. Márcio precisa perdoar, mas reluta em conhecer o caminho que poderá conduzir à libertação definitiva de suas mazelas interiores.
Esconde-se atrás da máscara do materialismo, para não ter de lidar com seus problemas espirituais.
- E por que existe esse ressentimento todo? O que fizemos a ele?
- O esquecimento do passado é uma grande bênção.
É somente quando estamos prontos para enfrentar os erros que cometemos, sem nos afundar na culpa e no remorso, que ele se ergue de nosso subconsciente. Por ora, é suficiente saber que vocês três já viveram juntos em Roma e ocuparam altas posições. Perderam-se na ambição pelo poder, e você e Peter acabaram por adquirir débitos com Márcio. Ele, por sua vez, endurecido no orgulho ferido de quem perdeu o poder tão desejado, não consegue perdoar...
- Por isso ele tem tanta dificuldade para aceitar o Peter... Voltando para Thomas os olhos úmidos, ela indagou:
- E ele poderá ficar curado? - A doença é o emissário divino que o alerta quanto à necessidade de fazer mudanças em seu interior. Infelizmente, ele continua relutando...
- Então o tratamento será inútil?
- Lutar pela vida nunca é inútil, Isabela. Leve-o para tratar-se, sem se preocupar se esses três ou quatro meses a mais aqui no Brasil seriam determinantes para sua cura; isso posso assegurar que não.
Com incontida tristeza, Isabela balbuciou:
- Estou cansada...
- Agora precisa repousar.
Thomas auxiliou a jovem a recolocar-se sobre seu corpo denso e logo ela adormeceu mais profundamente. Ao despertar, na manhã seguinte, trazia vivas na memória as impressões de seu encontro. Lembrava-se de trechos do diálogo e das emoções que sentira. Procurou fixar o máximo que pôde daquela experiência, consciente de que não se tratara de simples sonho. Depois, levantou-se com calma e se preparou para anunciar à família a sua decisão.
Apesar de não aprovar de todo a deliberação da filha, Márcio sentia-se enfraquecido pela doença, e o que desejava de fato era buscar a cura naquele país mais desenvolvido. Além disso, a idéia de estabelecer residência definitiva nos Estados Unidos lhe agradava sobremaneira. Pouco depois, Isabela comunicou a decisão ao noivo, que recebeu a notícia com grande entusiasmo.
Começaram os preparativos para o casamento e para a mudança de residência de Isabela e da família. Logo informaram Rafael, que contribuiu com a sua parte para que os planos se concretizassem. Márcio prosseguiu no tratamento, mas nada o fazia melhorar.
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
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