segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Capítulo 10 - Alguns Meses Se Passaram

Alguns meses se passaram. Vez por outra chegavam aos ouvidos de Constantino rumores de que Licínio se encontrava com antigos amigos de combate. E ele calmamente comentava:

- Não conseguirá fazer mais nada. Simplesmente, está acabado.


Enquanto dormia, Constantino recebia visitas espirituais que desejavam controlá-lo para satisfazer seus interesses. A respeito dessas companhias, Angélica comentava com Ernesto:


- Está cada vez mais difícil transmitirmos nossos pensamentos a Ferdinando, ora encarnado como Constantino. Ele parece não nos ouvir mais. 


Continua cercado, e cada vez mais, pelos nossos irmãos que caminham distante da luz de Jesus, opondo-se sistematicamente à expansão do Cristianismo sobre a Terra. A escuridão, pouco a pouco, toma conta da mente e do coração de Ferdinando. Agora, mais do que nunca, pode-se observar claramente em torno de seu corpo espiritual a formação de densas energias enegrecidas e de baixo teor vibratório.

Suspirando fundo, Ernesto comentou:


- Eles insistem em combater qualquer esforço para a expansão dos ensinos de Jesus e, principalmente, para que eles sejam devidamente compreendido pelas pessoas.


- É muito triste a situação desses nossos irmãos. 


Não percebem que os ensinos de Jesus lhes trarão libertação e auxílio? Não vêem quanta esperança espalham sobre a humanidade?

- Eles sabem disso.


- No entanto, mesmo assim se opõem sistematicamente.


- Desejam deturpar os preciosos ensinos de Jesus.
- E o que ganham com isso?


- Persistem na ilusão que os alimentava na Terra, e ainda os alimenta no plano espiritual imediatamente ligado ao orbe terreno.


Ambos ficaram pensativos por alguns instantes, depois Angélica afirmou:


- Do modo como Ferdinando está agora, acho que não conseguirá mais nos ajudar.
Ernesto comentou:


- E acho até que poderá prejudicar, e muito, o processo de crescimento do Cristianismo.


Percebendo a preocupação de Ernesto, Angélica indagou:


- Será que ele apagou por completo da memória os compromissos assumidos antes de reencarnar? 


- Por certo que não. Ele sabe, tem consciência deles, mas de seu subconsciente emergem forças que o atraem para o que ainda é no íntimo. Os defeitos morais que tenta combater exercem profunda atração sobre sua personalidade atual. 

Somente com muito esforço, humildade e dedicação ao bem ele poderia vencer-se e superar-se.

- E a nossa grande luta interior...


Abraçando Angélica fraternalmente, Ernesto reforçou:


- E é por esse motivo que nossos irmãos sobre a Terra necessitam tanto de nossa ajuda. Somente na troca entre os dois planos conseguiremos nos ajudar mutuamente e sair vitoriosos desta luta, que é de toda a humanidade, pela iluminação interior de cada ser humano e a conseqüente ascensão da Terra para um mundo de regeneração.


Muito interessada, Angélica indagou:


- E você sabe quanto tempo ainda levará para que isso aconteça, Ernesto?


- Acho que, de fato, só Deus o sabe. Dependerá de como a humanidade conduzirá seu destino rumo ao Criador.


Angélica ergueu-se e disse, cheia de entusiasmo:


- Então temos muito trabalho a fazer.


- Temos muito trabalho, minha amiga.


- E o que vamos fazer de agora em diante com Ferdinando?


- Por enquanto, continuaremos a cercá-lo com toda a ajuda que pudermos, no sentido de lembrá-lo de seus compromissos. Consultaremos nossos orientadores, mas se possível for, traremos Ferdinando até aqui, durante o sono, para conversar com ele.


- Então, volto agora mesmo para junto de nosso amigo. Estarei de prontidão para o que for necessário.


- Ore muito, Angélica, pois sua vibração de amor atinge sempre o coração de nossos irmãos encarnados.


Abraçando mais uma vez o amigo e companheiro de trabalho, Angélica abriu largo e sincero sorriso e despediu-se de Ernesto, retornando para junto de Ferdinando. Logo que adentrou o quarto onde ele dormia, encontrou três entidades espirituais de pesado teor vibratório que permaneciam em torno dele. Conversavam, sem registrar a presença de Angélica:


- Ele está cedendo às nossas sugestões...


- E será completamente dominado por nós. O outro concordou:


- Com algumas interferências aqui e ali, acabaremos com a encarnação dele.


Um deles perguntou, confuso:


- Ele vai morrer logo? 


- Claro que não, estúpido! 

Se conseguirmos desvirtuá-lo do caminho que tinha tomado inicialmente, será de muita utilidade para nossos superiores...

- Então ele continuará vivo.



- Vivo e conquistando tudo pela frente. Quanto mais sucesso tiver, no ponto em que está, mais ficará em nossas mãos. A sua gana de poder nos é muito útil.


Um deles comentou:


- De fato, é uma das ferramentas que nos facilita a aproximação. Uma das entidades aproximou-se do corpo físico de Constantino, sugando-lhe as ener-gias vitais e sussurrando-lhe ao ouvido:


- Acabe com Licínio. Ele ainda lhe trará problemas. Coloque seu plano em ação. Por que esperar mais?


Por vezes, Constantino se revirava na cama agitado. Seu corpo espiritual, em profundo torpor, permanecia em repouso ligeiramente acima de seu corpo físico. Angélica suspirou fundo e, avistando outro companheiro espiritual da luz, aproximou-se dele e comentou:


- Olá, Germano, como está?


- Muito preocupado com a situação de nosso irmão.


- Ernesto deverá vir buscá-lo, na tentativa de relembrá-lo de seus deveres.


Os dois avaliaram a situação espiritual danosa em que se encontrava o grande imperador e depois se entreolharam. Com os olhos marejados, Angélica convidou:


- Oremos, Germano, pedindo aos céus que auxiliem nosso irmão.


Fechou os olhos e proferiu sentida oração, rogando o amparo divino para Constantino. Em alguns instantes o quarto encheu-se de safírica luz, e as entidades espirituais das trevas experimentaram imediato desconforto. Uma delas falou:


- Estão aqui, mas não vamos sair. Um deles gritou, irritado:


- Quero ir embora! Estou me sentindo mal aqui dentro.


- Pois agüente firme. Precisamos ficar.


Aqueles que sugavam as energias de Constantino não conseguiram continuar e tiveram de afastar-se ligeiramente. Diante das emanações de amor e paz que envolveram o ambiente, suas próprias energias se enfraqueceram, concedendo momentânea trégua ao imperador, que pareceu dormir mais serenamente. Germano comentou:


- Bem, conseguimos uma trégua, não é mesmo? 


Preocupada, Angélica aquiesceu e disse: 

- Mas por quanto tempo, meu amigo? As atitudes de Constantino não ajudam; pelo contrário, fortalecem mais e mais a ação desses irmãos equivocados e doentes.

Depois de longa pausa, ela suspirou fundo e falou:
- Confiemos em Deus. Ele é dono de tudo e de todos.


Na manhã seguinte, Constantino acordou ainda entorpecido, mas decidido. Três dias depois, em Tessalônica, Licínio despertou cedo naquela manhã. Marcara um encontro com alguns de seus amigos e estava saindo, quando Constância foi ao seu encontro:


- Licínio, aonde vai?


Antes que ele respondesse, segurou-lhe os braços, pedindo:


- Não saia hoje, por favor.


- E por que não? Hesitante, ela explicou:


- Tive um sonho estranho e confuso esta noite.


 Estou angustiada, triste. Não sei explicar, mas gostaria que você ficasse aqui hoje, por favor.
Afastando-se da esposa, ele falou, desdenhoso:


- Ora, Constância, se eu for dar ouvidos a esses seus sonhos, não faço nada... Você vive tendo sonhos a toda hora.


Ela tentou argumentar:


- É que esse foi tão real...


Silenciou por um instante e, em lágrimas, continuou: 


-Tão triste...

- Não quero saber desses seus sonhos. Tenho compromisso e não venho para o almoço.


Saiu. Ao aproximar-se do estábulo, um de seus servos aproximou-se e lhe entregou pequeno pergaminho com curta mensagem:


"Estamos aguardando você nas colinas. E necessário termos muito cuidado e sigilo absoluto. 


Constantino espreita nossos passos."

Licínio montou seu cavalo e dispensou o serviço de seus soldados:


- Não precisam me acompanhar. Vou sozinho hoje.


E desapareceu depressa na direção do ponto onde era esperado.


Assim que alcançou o alto da colina, de onde podia avistar a cidade, apeou e prendia o animal quando viu um homem encapuzado aproximar-se. 


Antes que pudesse fazer qualquer coisa, o homem sacou uma espada e feriu-o no coração. Apesar de ser um homem de vigorosa compleição física, Licínio sentiu o forte golpe e agarrou-se à túnica do agressor, desnudando-lhe a cabeça. De joelhos, já quase sem vida, olhou para o homem que o agredira e balbuciou:

-Marco... Foram suas últimas palavras, antes que seu corpo tombasse ao chão sem vida. Marco certificou-se de que cumprira devidamente suas ordens e foi depressa para trás de alguns arbustos, onde escondera seu cavalo.


Assim que o corpo físico de Licínio tombou, inerte, seu corpo espiritual se desprendeu. 


Indignado, ele gritava, sem ter total consciência de seu novo estado:

- Eu acabo com você, seu covarde. E bem próprio de seu senhor! Eu acabo com ambos.


E rapidamente, sem que Marco pudesse notar qualquer diferença, agarrou-se a ele, em espírito, e seguiram a galope para Bizâncio. Marco levava consigo o inimigo de Constantino, agora desencarnado.

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