segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Capítulo 7 - Constantino Liderou 

Constantino liderou cerca de 5 mil homens que atravessaram o rio Ebro nadando e logo que cruzaram as águas, tal qual Constantino havia planejado, embrenharam-se por densa floresta para atacar o acampamento de Licínio pela retaguarda. Contavam com a surpresa do oponente para enfraquecê-lo.

Pouco antes do alvorecer, quando se ouviam os primeiros pássaros aqui e acolá, fez-se grande rumor por todo o acampamento e a confusão se instalou. Licínio ergueu-se de um salto e em poucos segundos estava armado, já sobre seu cavalo. Viam-se as flechas voando pelos céus do acampamento, e homens tombavam por todos os lados. Licínio gritou enquanto tentava controlar o cavalo:


- De onde vem o ataque?


Um de seus generais aproximou-se, informando:


- Estão nos atacando pela floresta.


A reação do exército de Licínio foi rápida, mas perdiam muitos homens, rapidamente. Tombavam às dezenas por todos os lados. Os poucos minutos que levaram para conseguir se organizar, foram suficientes para conceder grande vantagem a Constantino, que se aproximava velozmente. 


Um dos generais de Licínio enviou alguns de seus melhores homens à frente, para tentarem saber quão perto estava o inimigo. Dos cinco enviados apenas um retornou, e ferido, informando:

- Eles se aproximam muito depressa. Melhor proteger o general... não posso... não...


Não suportando os ferimentos, desfaleceu. Logo um grupo de generais se reuniu, em meio à confusão, para pedir ao imperador que se retirasse:


- Deve retornar imediatamente à segurança da cidade, senhor. O acampamento já não é seguro.


Licínio nem tentou argumentar. Arregimentou rapidamente um grande número de homens e partiu em retirada, caminhando na direção das muralhas que fortificavam e protegiam a importante cidade de Bizâncio.


Constantino, por sua vez, avançava mais e mais. 


Os homens de Licínio, ainda que em número muito maior, eram forçados a deixar sua vantajosa posição em terreno íngreme e descer para uma grande área plana em terras de Adrianópolis, concedendo assim mais vantagens aos atacantes.

Quando conseguiu alcançar o coração do acampamento, onde alguns minutos antes estava Licínio, Constantino ordenou que os arqueiros atirassem flechas flamejantes, com tochas nas pontas, para o alto, avisando a seu exército que deveria atacar.

Cruzando bravamente o rio, o exército de Constantino avançou intrépido ao encontro de seu general. Este, de espada em punho, atacava tudo e todos que encontrava pelo caminho. Desejava o confronto com Licínio, mas já pressentia que ele tivesse recuado. Seguiu-se, então, violenta batalha que dizimou mais de 34 mil homens.


Pelo meio da tarde, Constantino vencera o exército do opositor e imediatamente se dirigiu para as muralhas de Bizâncio, com o objetivo de invadi-la.


Conclamando mais uma vez seus homens, gritava com vibrante entonação:

- Não esmoreçam agora!


Depois de breve pausa, gritou ainda mais alto:


- A vitória está próxima! Breve Bizâncio será nossa!


Marco, tentando protegê-lo mas conhecendo seu imperador, indagou hesitante:


- Não seria melhor descansarmos um pouco, meu senhor? Precisa cuidar desse ferimento. Está sangrando muito.


Descendo de seu cavalo, Constantino improvisou ataduras e amarrou-as fortemente à coxa, acima do profundo corte que sofrerá. Depois, subiu no animal e agradeceu: - Compreendo seus cuidados, Marco, mas nada me deterá agora. Estamos a um passo da conquista completa do império. Não quero me demorar. Temos de invadir a cidade.


Chamando outro de seus generais, ordenou:


- Encontrem os homens de Licínio que debandaram para a floresta. Não quero surpresas...


Prontamente, o outro aquiesceu:


- Sim, imediatamente.


Depois, intrépido, Constantino ergueu uma vez mais a espada já sem brilho e gritou:


- Logo estaremos dentro da cidade. Sigam-me e seremos donos de todo o império!


Envolvidos pelo forte magnetismo daquele homem, os soldados o seguiram sem titubear. 


Confiavam cegamente em seu vitorioso imperador.

Ao se aproximarem das altas muralhas de Bizâncio, Constantino ordenou que montassem um forte cerco e começassem a construir engenhosas torres de terra.


Depois de montar sua tenda e acomodar-se no local, chamou um de seus melhores mensageiros e ordenou pessoalmente:


- Diga a Crispus que ele deve atacar imediatamente a frota de Licínio ancorada no Helesponto. Que force a passagem e destrua os seus navios. Precisamos que os alimentos nos cheguem por terra, e somente abrindo a estreita passagem que eles controlam poderemos receber os suprimentos de que necessitamos.


O mensageiro partiu no mesmo instante. Ao final daquele dia as torres começaram a ficar prontas e pouco a pouco, com muito esforço e utilizando grandes alavancas de madeira, foram posicionados sobre elas catapultas que começaram a arremessar pesadas pedras e gigantescas tochas sobre as fortes muralhas da cidade.


Em seu palácio, Licínio caminhava de um lado a outro, aflito, escutando o barulho do impacto que as pedras enormes causavam nas muralhas. 


Quando um de seus generais entrou na sala, ele logo indagou:

- O que estão fazendo agora? Será que terão alguma chance de transpor esta fortaleza?


Preocupado, o general respondeu:


- Estão atacando as muralhas. Inseguro, Licínio retrucou:


- Elas são muito resistentes, suportarão os ataques. O outro prosseguiu, com forte tensão na voz: 


- Estão atacando no centro da muralha, justamente no ponto onde são mais frágeis.

- Como isso foi possível? Elas são muito altas.


- Não conseguimos ver, mas de alguma forma colocaram as atiradoras num ponto mais alto, atingindo o centro de nossos paredões.


Cansado pelo recuo rápido que fora obrigado a realizar, e profundamente contrariado pelos avanços e manobras inteligentes do rival, Licínio gritava descontrolado:


- Eles não podem entrar, está entendendo? Tem de impedi-los. Derramem óleo fervendo sobre eles, agora!


- É o que estamos tentando, mas fomos pegos de surpresa. Não temos nada preparado de pronto, para responder a esse ataque à altura. Se conseguirem entrar...


Agarrando o subordinado pelo pescoço ele bradava:


- Eles não podem entrar, está me entendendo? Vá, faça seu trabalho, seu incompetente! Estou cercado por incapazes, homens fracos!


O general saiu logo e Licínio continuou gritando impropérios. O cerco se estendeu por toda a noite e pelo dia seguinte, sem interrupções. 


Constantino, acampado em local estratégico de onde acompanhava toda a movimentação de seus homens, estava totalmente convencido da vitória. Já podia ver-se ocupando o trono de Licínio.

Amanhecia quando o mensageiro entrou depressa pelo acampamento próximo às margens do rio Ebro, onde Crispus aguardava as ordens do pai. 


Tão logo o mensageiro o procurou e transmitiu as ordens para o ataque, o jovem organizou seus homens e imediatamente lançou-se ao mar, ocupando a maior e mais bem equipada embarcação de que dispunham. 

Enquanto esperava, planejara detida e minuciosamente o ataque que encetaria. Estava empolgado e via naquele ataque a grande oportunidade para ocupar um lugar de destaque e honra ao lado do pai. Queria muito que o grande Constantino reconhecesse seu talento e seu empenho.

Não demorou muito a alcançar as embarcações do inimigo. Travou-se grande batalha. Embora a esquadra de Licínio fosse maior e melhor equipada, a determinação e a destreza de Crispus logo fizeram sua armada sobressair. Vários navios se queimavam sob o fogo da força marítima do filho mais velho de Constantino. A batalha durou todo o dia. Na manhã seguinte, muito embora seus homens demonstrassem sinais visíveis de cansaço, Crispus seguiu atacando. Perdeu várias embarcações importantes, e pelo meio do dia julgou que não poderia sair vencedor daquela batalha. Entretanto, de súbito, forte ventania soprou sobre o estreito do Helesponto, levando os navios de Crispus para bem perto dos do opositor.


O jovem não teve dúvida: ordenou ataque maciço e incendiaram a frota adversária. Vários navios partiram em retirada e 130 foram destruídos. O seu próprio navio estava em chamas quando proclamou, erguendo a espada, à semelhança do que fazia o pai:

- A vitória é nossa!


Ao grito uníssono da tripulação, Crispus escutou o cumprimento de seu subordinado imediato, que lhe tocava o ombro:


- Brava vitória, Crispus! Excepcional! Seu pai se orgulhará de você.


Sorrindo satisfeito, o belo rapaz observou, com ligeiro sinal de cabeça:


- Espero que ele seja comunicado da batalha em seus pormenores.


Compreendendo imediatamente o que o rapaz desejava, o outro respondeu:


- Ele saberá, Crispus, todos os detalhes dessa brava e corajosa vitória.


Logo depois, alimentos e água chegavam ao acampamento de Constantino. Não demorou e a primeira muralha começou a ruir. Desesperado, Licínio aguardava informações. Um de seus generais entrou, ofegante:


- Precisamos partir, senhor. Um de nossos muros externos acaba de ruir. Não vai demorar para que consigam enfraquecer outros e, assim, não tardarão a entrar.


Licínio ergueu-se, e logo organizou uma grande comitiva e partiu em retirada, levando consigo muitos baús contendo suas riquezas e tesouros. 


Deixou para trás sua família e seu povo. Em região não muito distante, conseguiu reunir novo exército, com cerca de 60 mil homens.

Constantino avançava em sua ofensiva e, pouco a pouco, outras muralhas foram derrubadas. O grande general estava prestes a invadir Bizâncio, quando foi informado por Marco:


- Licínio escapou e formou um novo exército em Bitínia.


- Quantos homens conseguiu arregimentar?


- Certamente mais de 50 mil.


- Muito bem. Quantos homens ainda temos?


- Quase 100 mil, senhor.


- Mande 80 mil para Bósforo, em pequenas embarcações. O restante, quero que ocupe a cidade.


E tocando no ombro de Marco, pediu:


- Você deverá ficar aqui e comandar a ocupação. 


Marco fez menção de retrucar, mas ele prosseguiu:

- Preciso de você aqui, Marco; é em você que mais confio. Eu irei com os outros.


- Mas... 


- Quero enfrentar Licínio pessoalmente. 

Tenho de ter certeza que ele não vai escapar desta vez.

Desistindo de argumentar, Marco conformou-se:


- Cuidarei de tudo.


- Muito bem, seja cuidadoso com as mulheres e as crianças. Não quero mortes desnecessárias. E cuide de minha irmã...


- Sim, meu senhor, cuidarei de tudo.


- Muito bem, vamos. Não quero dar nenhuma vantagem a Licínio.

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