Capítulo 13 - No Verão
No verão de 325, em Nicéia, Constantino presidia a primeira conferência mundial dos bispos da igreja cristã . Estavam presentes cerca de 250 bispos de todo o império, além de padres acompanhantes e diáconos.
Foram oferecidas aos bispos as comodidades do sistema de transporte imperial - livre transporte e alojamento de e para o local da conferência - para encorajar o maior número possível de audiência. E o objetivo foi atingido, pois todo o corpo eclesiástico da época compareceu em peso àquele que seria um dos marcos da fundação da Igreja Católica6.
O imperador abriu a reunião.
- Sejam bem-vindos. Como já devem saber, nosso único propósito é resolver disputas internas e fortalecer o Cristianismo, para que ele cresça ainda mais. Todos sabem que há muito venho me esforçando por contribuir com a expansão desta bela religião. Sou cristão e toda a minha família também o é. Desde que comecei a governar, tenho dado atenção especial às questões Cristãs. Muitas vezes temos deparado com opiniões divergentes e temos de saná-las, para o bem geral. Esse é nosso objetivo aqui, e para alcançá-lo vamos ouvir a todos.
Um dos bispos que seguia a visão ariana de que Jesus era um enviado de Deus, mas de natureza exclusivamente humana, falou baixinho ao colega a seu lado:
- Será que ele está de fato bem intencionado? Sinto algo suspeito...
O outro respondeu:
- Será? Ele tem dado boas contribuições para o Cristianismo. Veja o Edito de Constantino. Com ele, o domingo ficou definido como o dia de adoração a Deus. Recorda-se de como estava difícil essa definição? A ala judaica queria o sábado, e os romanos preferiam o domingo.
- Lembro bem como estava ficando confuso. Mas igualmente não esqueci outros comentários que escutei sobre a escolha do domingo.
- Que tipo de comentários?
- Parece que foi escolhido também porque é o dia do sol, do culto do Sol Invictus, celebrado pelos romanos. Por isso desconfio das reais intenções de Constantino e não me sinto totalmente convencido.
O outro se calou, pensativo. Os discursos começaram. Os primeiros a argumentar foram os defensores da questão ariana. A princípio teve a palavra o próprio Ário, seguido de seus discípulos mais devotados, Eusébio da Nicomédia e Eusébio de Cesaréia. Depois de eloqüente e entusiasmada exposição dos arianos, foi a vez dos ortodoxos.
Vários deles falaram, especialmente Atanásio, diácono novo e companheiro de Alexandre, de Alexandria, lutador vigoroso contra os arianos; depois Eustáquio de Antióquia e Macário, de Jerusalém. Não obstante, muito antes de terminarem as discussões, Constantino tinha tomado todas as decisões concernentes àquele encontro. Dali sairia a forte Igreja, comandada indiretamente por ele.
Esgotados os debates, Constantino propôs uma votação. E todos foram a favor da posição ortodoxa, com exceção de Ário, Eusébio e Eusébio de Cesareia.
A sentença para os perdedores foi dramática: os três foram exilados, as obras de Ário condenadas à fogueira e todos aqueles que porventura as possuíssem seriam mortos. O direito à liberdade intelectual foi vencido pela exigência de conformidade espiritual da parte dos membros da Igreja à extensa e crescente organização eclesiástica. O Estado romano concedeu às deliberações daquele corpo eclesiástico o poder imperial.
Por fim, afastada em definitivo a ameaçadora questão ariana, os participantes estabeleceram a profissão de fé: os vinte cânones que deveriam nortear a Igreja a partir daquela data. Nascia, assim, a Igreja Católica Apostólica Romana. Roma tomou posse do Cristianismo e subjugou-o para usá-lo a seu favor, com a anuência do corpo eclesiástico.
Ao final, o imperador decretou:
- Os que resistirem ao divino juízo deste sínodo podem preparar-se para um exílio imediato.
Depois de seis anos de disputa, coube às decisões do Concilio de Nicéia manter e perpetuar a unidade da fé. Os éditos posteriores de Constantino visa-vam infundir em seus súditos a aversão pelos arianos.
A reunião foi encerrada. Um a um os presentes foram deixando o grande salão, que ficou frio e vazio. Constantino, que permaneceu por longo tempo em seu trono, sentiu calafrios a lhe percorrerem o corpo. Obtivera o que desejava, mas por alguma razão que desconhecia não se sentia feliz. Algo o incomodava. Ao seu lado, Núbio gargalhava satisfeito. Ele, sim, sentia satisfação total pelos objetivos atingidos. Naquela noite tinha consigo uma legião, e ria afirmando:
- Venceremos o Nazareno! Vocês podem acreditar em mim. Vejam a nossa vitória! De hoje em diante, afundaremos o Cristianismo em dogmas e mais dogmas. Ele jamais se erguerá de novo!
E continuava gargalhando espalhafatoso, admirado pelos seus seguidores.
6 Católico quer dizer, em sua acepção etimológica, universal.
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
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